há um qualquer coisa de gasto, de vasto
é basto, o teu cabelo
que sinto o cheiro de longe
quando te vejo chegar, passos lentos e largos
(mais até do que as pernas podem aguentar)
e te demoras
pois estais sempre exausto
tanto que nem no sono podes esconder-te
perdoa, perdoa esse meu
faminto olhar
que te acompanha, de (a) braço
mas acontece,
que eu te amo,
eu amo,
esse teu sincero
cansaço.
segunda-feira, 26 de setembro de 2011
quinta-feira, 1 de setembro de 2011
Era fim de tarde. A cama pequena e única ocupava aquele novo espaço. O ar levemente contaminado por um rastro de fumaça e não havia meio de parar aquela chuva porque, claro, eu só poderia ter me dirigido até ali por conta dela. Aquele tempo me recordava seus olhos e aquele lugar cheirava a solidão.
Eu podia perceber pela distribuição dos objetos e o lençol amarrotado o abandono total de uma vaidade sempre incompleta e que Malone ainda não havia se acostumado com aquele seu lugar. Se é que realmente poderia chamá-lo assim.
Sentei-me na cama ( como de costume ) ao lado da janela. Era como se estivesse sempre a ponto de partir. Uma provocação a si mesmo, a um homem que esconde-se do mundo mas que não adormece sem estar próximo do limite entre si e a realidade distante.
Ali, repousava o tempo. Aquele perdido e também o porvir. Tive saudades de algo que não soube descrever por não ter aprendido a perdoar e recordei determinada conversa com meu irmão:
dizia sentir-se vivendo uma vida ultrapassada e já não sabia até que ponto saber disso o ajudava. Assistia-se em segunda pessoa e dava gritos de angústia por sentir-se tão impotente. Afinal um dia ele havia descoberto uma flor.
- O que é o homem não antes um fracassado e incapaz de ser feliz com o que possui? Eu a inventei, a poli, cheguei mesmo a conseguir conviver com ela durante algum tempo. Mas eu não soube respeitá-la, soeur. E nos perdemos.
A medida que lembrava sua tristeza seus olhos camuflavam-se na chuva e eu podia viajar por entre aquelas que cors que por tantos anos me auxiliaram a perceber também aquilo que eu mesma não compreendia. Malone sempre fora uma espécie de guia para mim. Nos acreditávamos como se fossemos a última coisa em quem acreditar. Sim coisa. Sim quem.
De pronto desviei meu olhar para a porta do quarto e como a última e mais bela nota duma sinfonia mal pude crer que ele estava ali. Sempre presente quando mais preciso dele. Com a cabeça recostada no batente, braços cruzados e o velho ar de reprovação e zombaria (que na verdade mascarava o grande amor que lhe sobrava pelo mundo), estava feliz de me ver novamente. Dei-lhe então um sorriso que só a ele cabe merecer.
-Eis nosso espaço comum, soeur. Onde a vida não nos toca mais e o silêncio preenche o que do vazio nos sobrou.
Caminhou até mim como se fosse o último homem a caminhar na Terra. Ele podia e eu sempre deixei que o fizesse. Afinal, detinha o poder e o saber para ir até onde quisesse e por isso mesmo já não haveria de ir a lugar algum.
10/06/2011 Sexta. 19:15h
Ao homem de amêndoas que pouco conhece Malone e a quem por isso ele lhe detém tanto amor... a Malone, sempre e sempre.
A noite chuvosa povoou seu olhar seco por uma vida em forma de pingos.
Queria acordar na manhã seguinte junto com um sol mais quente, como o calor entre duas mãos dadas; sentir a areia mais grossa sob seus pés para lhe ser um pouco mais fácil caminhar pela estrada que a cada dia se fazia mais longa.
Parada, desejava uma noite Cheia de Luas.
20/08/2011
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