As nozes amanhecidas dominaram o hálito inocente e indefeso daquela tarde da paixão e ele não haveria de encontrar meios para impedi-la de ir embora.
No caminho de volta, conduziu-a até a porta de casa. Deu-lhe a mão. Não poderia chorar afinal ela ia mais uma vez para longe de seus olhos. Ele a pintava com o mesmo tom de verde de Van Gogh: à espera que ela lhe desse um sinal de que aquilo recém começado já houvesse chegado ao fim.
Porém, o cheiro do malte que exalava de sua pele e lábios, bem como sua voz escura (que tentava envelhecer aqueles olhos de menino assustado) a estavam agradando cada vez mais.
Mas ele não se deu conta disso naquele dia em que consumiram o amor (o teriam sido consumidos por ele?) sobre os lençóis claros e confidentes que guardavam o segredo daquela solidão compartilhada e oculta do resto do mundo.
Ela teria passado o resto do tempo ali. Mas ele começara a temê-la e entendeu que após o café amargo que ela o havia ensinado a gostar lhe daria um beijo de despedida e talvez não voltassem a se ver nunca mais.
Ele a olhou com seus olhos a ponto de fugir dos dela. Ela o observava sem medo.
Silêncio.
Ela tocou-lhe o indicador que pendia inquieto no câmbio sem tirar os olhos dele:
- Esse sou eu, muito prazer – ele disse
-Eu só queria que você sorrisse...
E num daqueles momentos que Malone gosta de chamar de suspensos no ar seu olhar escapou do dela e se escondeu no mais opaco lugar de sua mágoa interior.
Ele sorriu
De certa forma já se amavam
Uma homenagem a você, minha linda, que me contou essa história de amor e que me permitiu transcrevê-la aqui.