domingo, 13 de outubro de 2019

hombre libre


Não há e nem houve até hoje um tempo como este. O tempo de decidir como ser tão livre que ás vezes uma pessoa até mesmo se perde.
Se eu pudesse ter tido ideia do quanto Malone me observou, apenas esperando pelo dia em que eu finalmente me daria conta de sua imensidão.

Sei que o encontraria, após muitos anos, com seus pés metidos na areia branca. Ali me está esperando para chorar comigo todo o luto que trago dentro. Sei que iremos de praia em praia na tentativa cega e na espera muda de nos encontrarmos novamente com o Marinheiro.

Sentaremos-nos, frente ao oceano, e derramaremos todas as lágrimas engolidas e rolaremos pela areia recebendo a terra e o sal curará, o quanto seja possível, a inexorável pressão do Tempo.
Depois de tanto chover pelo coração eu poderei encontrar o Homem Livre.

Enquanto isso, Malone sabe que vai me perdoar mais uma vez, me detenho numa pausa sem expectativas de viver um amor são, talvez pela primeira vez. E talvez, única.

sexta-feira, 2 de agosto de 2019

Hoje


E muitos anos depois eu sinto o presente.


O grande presente que sempre esteve presente, mas meus olhos, desatentos da morte, se recusaram a receber. Meus olhos ainda não se acostumaram a não vê-lo mais.

Eu estou sentada diante da grandeza oceânica da minha dor, do meu luto. Hoje me vestirei de areia e chorarei. As lágrimas pacientemente cairão e eu não precisarei mais impedi-las. E você me mandará ondas que com fria temperatura me despertarão como que dizendo: chorar para quê, filha? Eu permaneço aqui.

Eu posso viver o presente. Eu posso amar. Eu posso voltar a escrever. Eu permitirei que meu Malone a replante. Ela, humilde flor do meu jardim.

Hoje a solidão rima com calma e eu posso amar meu abismo. Nele te encontro, te revejo eternamente jovem, alimentado de sorrisos, reinventando o vazio, assumindo o risco de viver escutando a melodia de um coração dilacerado, conversando com o tempo, senhora e senhor de nós, purificando meu lar, acalentando a tua falta muda e inexorável.

Hoje.
Presente.
Vida.
Sempre continua e a morte sempre morre. Você morreu, eu morri, a vida vive.
Eu te amo.



Dedicado a Raya, rainha das águas que me trouxeram de volta à você.

segunda-feira, 15 de outubro de 2018

Conto Andino

Conto Andino



Certamente, Malone ainda me observa.

Muito tempo após o desencontro na estação, quedas em ladeiras, fumaça em ruas desconhecidas, os anos sem poesia e aquele último banho de amor, sim, de amor haveria de encontrá-lo por entre a tão saudosa encosta da Montanha.

Ali, serenamente sentado, se mostrava menos cinza do que antes. Seus olhos cor de chuva, dessa vez sorriam. Sorriam pois sabiam que em algum momento nos reveríamos. Sorria pois já havia derramado todas as lágrimas como escudos que me protegeram ao longo desse hiato silencioso e oco. Sorria, pois desde lá, juntamente com o povo do Norte, de onde veio, pode reconstruir a ponte por onde hoje passo por cima do abismo do meu desengano. Sorria pois sempre me havia esperado.

Soeur, há quanto tempo, me disse contemplando a neve que, ao tornar-se água, regava e adubava a divina criação. E em seus olhos havia amor, sabedoria...

Em um dia exato de um inverno exato, depois de viver um século, volví a los 17 e dentre tudo o que a Liberdade me revela, sua calma se faz presente.

Lá no fundo de toda a minha dor, já velha, seu riso espontâneo e sonolento adentrou e me arrancou de uma cama onde me deitei há muitos anos.

Ele parecia estar me procurando e me encontrou na beira de eu lhe encontrar.

Agosto, Setembro, Outubro, 2018...

Argentina, Córdoba, Mendoza.

Dedico ao menino-homem que me entregou muito mais do que eu supus
merecer e que ao me encontrar, salvou mais uma vez a minha vida.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

Malone subia por uma rua conhecida. O tempo definitivamente havia passado e homens de amêndoas já não me separavam dele. Há alegria e nostalgia em seus olhos que me avistam, sentada a beira do caminho, exalando mais fumaça do que antes e com a velha mochila nas costas, dessa vez mais pesada. Eu tentei te avisar sobre o tempo, soeur. 

- Vejo teu olhar camuflado por entre as todas idas e vindas. A falta do velho homem te envelheceu, irmã. Passaste muito tempo sem conversar contigo mesma. 

- Hiato com gosto de pra sempre e O cheiro daqueles olhos contornaram a silhueta dolorida de meus dias. Caminhei, hipnotizada pelo aroma forte e adocicado que me recordava príncipes de outras terras. Ali foi bunker onde eu protegia tiroteio interno. O menino ajudou a semear a terra novamente. Eu ofereci corpo, alma e seio machucados. Eu já não era nada como antes. Já não serei tudo como depois. 

E a flor nasceu de novo com sua beleza solitária. Não se atinge compreender nessa rua: A beleza não machuca mais. Eu só sempre queria a paz. 

Caminhamos sem medida de tempo, sem existencia de relógio. E a mochila estava mais leve. Comigo só carrego o peso (ou a leveza ) de ser.

"...sem ter medo da saudade, sem vontade de casar"

terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

pra quem sempre não gostou de poesia

Sempre procurei a pista em teus olhos de maçã verde, mesmo sem querer. Além da pista, encontrei o tesouro e além do tesouro descobri o pirata que me roubou - o, tão cedo. 

Sou náufraga á deriva, em outra ilha talvez te reencontre, amigo.

Quanto ao pirata que levou o tesouro, já não se sabe mais. Não importa, o mapa finalmente está comigo.




segunda-feira, 15 de abril de 2013

urgência
de um lugar bem longe de qualquer sentimento
Voar.
e esquecer-me.

segunda-feira, 25 de março de 2013

Ah, Irmão.
Volte.
Nunca precisei tanto de ti.
Volta-me. Agora.
Me leve embora disso tudo.
Do amor, da Vida,
Do amor.
Quero a paz de viver sem amar ninguém.
Quero somente a mim mesmo.