Talvez fosse num lugar calmo assim que viria a encontrar Malone depois de tantos anos. Um ambiente a céu aberto, com luzes saindo do solo, o som de gangorras e gira-giras ao longe onde estaríamos sentados como dois bons irmãos que nunca haveríamos de ter e o vento sopraria carícias a nossos pés descalços.
Enquanto fumava um cigarro a música ao longe ensaiava começar, ele gosta de me ver assim. Sua presença me desafia pois ainda que eu insista em desafiar-me com ausências suas eu me sinto muito bem quando em momentos indecifráveis como esse me encontro só e feliz. Como se fosse uma espécie de medo da voraz realidade de que um ser pode ter plenitude consigo mesmo e mais nada.
Há quem prefira esquecer e há quem prefira insistir. Eu pensava no menino que talvez nunca me mostrasse sua alegria e sentia que feliz não era e não havia nada que eu pudesse fazer para salvá-lo a não ser pacientemente aguardar no mais puro silêncio que pudesse aguentar.
Nesse lugar eu via o mundo: pais e filhos, o casal que se deixava descansar pelo ruído da água atrás de suas cabeças, ora ele, ora ela (senti uma ponta de nostalgia ao observá-los); um grupo de jovens avassaladoramente sorridentes e a noite caindo por em cima de meus cabelos lavados.
Eu pairava suspensa ou seria o próprio mundo se consumindo pouco a pouco até encaixar certinho dentro do meu peito sempre ansioso (e às vezes até morto) nessa grande vontade de viver que lhe agradava e outra vez lhe cansava?
Tal como a fumaça que trago, me invade e me abandona em tão poucos segundos.
Dedicado a momentos e pessoas caóticas que me preenchem, me abalam e vivem a me ensinar.
14/04/2012