segunda-feira, 15 de outubro de 2018

Conto Andino

Conto Andino



Certamente, Malone ainda me observa.

Muito tempo após o desencontro na estação, quedas em ladeiras, fumaça em ruas desconhecidas, os anos sem poesia e aquele último banho de amor, sim, de amor haveria de encontrá-lo por entre a tão saudosa encosta da Montanha.

Ali, serenamente sentado, se mostrava menos cinza do que antes. Seus olhos cor de chuva, dessa vez sorriam. Sorriam pois sabiam que em algum momento nos reveríamos. Sorria pois já havia derramado todas as lágrimas como escudos que me protegeram ao longo desse hiato silencioso e oco. Sorria, pois desde lá, juntamente com o povo do Norte, de onde veio, pode reconstruir a ponte por onde hoje passo por cima do abismo do meu desengano. Sorria pois sempre me havia esperado.

Soeur, há quanto tempo, me disse contemplando a neve que, ao tornar-se água, regava e adubava a divina criação. E em seus olhos havia amor, sabedoria...

Em um dia exato de um inverno exato, depois de viver um século, volví a los 17 e dentre tudo o que a Liberdade me revela, sua calma se faz presente.

Lá no fundo de toda a minha dor, já velha, seu riso espontâneo e sonolento adentrou e me arrancou de uma cama onde me deitei há muitos anos.

Ele parecia estar me procurando e me encontrou na beira de eu lhe encontrar.

Agosto, Setembro, Outubro, 2018...

Argentina, Córdoba, Mendoza.

Dedico ao menino-homem que me entregou muito mais do que eu supus
merecer e que ao me encontrar, salvou mais uma vez a minha vida.

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