segunda-feira, 10 de agosto de 2009

No solstício de Inverno...

Terei eu me esquecido de atender o telefone naquela madrugada? Ou foi o estranho e indigesto tomate mal batido no liquidificador da memória que me fez desconhecer o número do armazém da esquina?

Reparei que a luz em cima de minha cabeça nao parava de piscar, naquele teto inédito, na mesma medida e velocidade daqueles ruídos indecisos. E o aroma de pedra da cidade tão longe de mim quanto meus olhos da bendita e tao acalentada estação de trem. Aonde nos vimos, eu e o estrangeiro, pela última vez. Os seus olhos rasgados e muito escuros ainda permanecem como a marca da lágrima derramada na janela da locomotiva que me levaria para o destino intragável que tardaria anos em sair da minha cômoda de madeira. E que me envelheceria cedo demais.


Então eu só podia ter sentado na pedra e observado a chuva de pequenas fadinhas que vinham nao sei bem de onde. Me lembrei de uma brincadeira dos primeiros tempos. Conheci um príncipe de terras longínquas e históricas. Adorável era o seu desenho. Ele tinha nariz, dentes, cabelos e olhos. Um de Cada Cor do Vento.


Um dia depois eu entrei pela porta da meio. Saí pela da frente e dei de cara com aquele homem, que ficara subitamente velhinho, ele me acenou e antes de virar pó de estrela teve tempo de me cantar uma canção. Muito parecida com a melodia que eu me acostumei a ouvir no café-da-manhã na capital do Pintor. E se a vida fosse um país eu teria nascido no povoado mais próximo da Alegria. Aquele, que só eu e um certo escritor de poemas conhecemos.


Terminei o Século observando os astros fazendo compras desde a ala noroeste de uma Torre de Mármore bem clarinho, nas minhas mãos eu levava um caderninho vermelho, nele nao havia escrito nada. Nele eu teria escrito aquela história, justo aquela que não consegui de maneira nenhuma, (e os filhos da água são testemunha de que tentei de todas as maneiras imaginar) ,pois até hoje nunca vi realmente a cor da Lua. Ele tinha tom de Lua em sua face. Ainda me lembro que lhe pedi ajuda, mas ele voou para muito longe, antes que eu pudesse suspeitar que ele fosse um animal alado. Mas o céu me presenteou com a imagem do Segredo, da Beleza e da Espada e naquele exato momento olhei para baixo e avistei o pequeno parque de diversão atrás da encosta da montanha e soube que nunca mais voltaríamos a vê-lo.


E entao, FINALMENTE, eu a vi, Rainha Branca, vestida de Nuvem rindo timidamente, como faziam os nativos da aldeia onde eu nasci, bem ao Norte, eu só pude pensar que até Alice gostaria de estar em meu lugar.


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Aos nossos beijos, Infinitos da cor do Céu.


E a Lewis Carroll que certamente desvendou a dor dela.

2 comentários:

  1. hay imágenes que bailan entre la delicadeza y la fuerza.

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  2. escrito em 10 minutos, numa noite de profundo tédio, após ter trabalhado quase 12 horas.
    mas a idéia era essa, dançar.

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