sábado, 16 de janeiro de 2010

Do menino e da coruja


Era bem cedo para acontecer. Mas aconteceu. Foi numa noite. Havia uma sala, calor, dores pelo corpo inteiro. Ambos miravam a janela sem vista. Não era necessário olhar pra fora, tudo o que mais desejavam estava bem diante deles.


Aquele menino passou por ela quando era proibido. Mas o menino era tão bonito. Ele tinha olhos de uma tristonha inteligência. E ele lhe fazia rir. Seu nome era de guerreiro. E ela, sem querer, o transtornava.


A noite era quente os fazia despir a solidão do primeiro (ou último) beijo que selava o começo (ou o fim) de tudo. O som da risada do menino era rouco e desafinada era a antiga canção que ele fez pra que ela risse junto. Ali os dois unidos sabiam que letra e melodia eram desconexas. Então eles começaram a tocar e tocaram muitas e muitas estrelas ao longo daqueles segundos esquecidos e ignorados por todos.


Solitários dentro de um aquário muito grande de sensações eles se reconheceram como dois irmãos e nem mesmo de longe puderam perceber que bem acima da superfície, aquela noite tinha sim uma testemunha, silenciosa e crepuscular. A única que poderia adivinhar o derradeiro e incerto futuro.


Malone escutou toda a história e, calado, colocou-se diante de suas ferramentas a fim de plantar mais uma rosa. Eu o observo. E desconfio que de algum lugar aqueles olhos nos observam também.

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