sábado, 16 de janeiro de 2010

presentes que a ausência também dá

Malone conta-me sobre sua estadia com o velho homem. Havia tanta luz como escuridão em seus olhos pretos. Havia um amor perdido por entre os anos da distância que, a cada quilometro, se intensificava mais e mais.

Ao redor de sua face, o velho homem mantinha a pura beleza dos primeiros tempos, mas saiba que era mais velho do que gostaria de ser. E tal constatação embaçava o brilho indeciso de seus olhos que em sorrateiros momentos delatavam que ele também tinha as suas dores. Seu andar era de espera. Como sempre conseguiu viver: à espera de algo lhe indicasse o caminho.

Ele tratava a moça como a rosa mais querida. Malone admirou o sutil toque, essa misteriosa diferença, esse aroma de leite, essa força que jamais poderia desvendar e que ele não sabia bem o que era. Mas aquele velho homem sabia mais do que o próprio jardineiro em assuntos de cuidar da moça. Algo que Malone não podia compreender, pelo menos ainda não.
Meticulosamente, Malone estudou tudo o que aqueles momentos poderiam dar-lhe.

Há muito que me falava do tal velho homem, contou-me que lhe havia ensinado pouco, mas o essencial. Que o tempo não envelhece. Perguntava-se se algum dia chegaria a ser ele. Havia embutida naquela alegria a vontade imensa de ter feito tudo diferente. Assim como Malone. Como quando decidiu recusar o amor dela, pois sabia ser finito.

É um grande homem, soeur. Tão lindo como um desenho feito a lápis e jamais retocado. E a dança não está nele como está na pequena mulher dos meus sonhos, mas nele há a vontade imensa de viver a vida. Por um fio. Ele não quer morrer.

Malone disse tudo isso e ao terminar em seu peito martelava um coração desacordado há muitos anos, mas que diante da visão daquele velho homem, acabou-se vencido. Poderia jurar que vi cair uma sombra de lágrima, não fosse meu irmão tornar a virar o rosto em direção contrária. Calou-se e manteve-se assim por toda a viagem de volta.
Ao velho-homem, que continua longe, mas eternamente dentro.

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