domingo, 5 de abril de 2009

Malone - Parte I




O FIM

Ás vezes a vida nos pede algo. E nós não somos capazes de escutar. Mas a vida não desiste assim, facilmente. Essa parte ela deixa para nós, humanos.
Até o momento em que já não nos pede mais, ela nos obriga a parar.

Assim me disse Malone, no auge da sua ironia. Típica coisa que fazia quando queria esconder aquilo que estava realmente sentindo. Observei-o por um longo período de tempo. Era visível que refletia sobre o que acabara de me dizer.

Existem coisas que acontecem e marcam a vida do ser humano, das quais jamais nos recuperamos, é fato. A primeira frase que ouvi de seus lábios foi que tudo o que fazemos, fica, permanece e ao mesmo tempo mata um pouco de nós.

Falava com ardor quase que infantil. Como aquelas pessoas que não falam muito e quando pronunciam uma palavra é como se a estivessem tocando. Em um determinado momento ele perdeu a concentração e soube que dificilmente sairia daquele lugar. Quem eram seus melhores amigos? Resumiam-se a pessoas que ele havia conseguido apreciar com o tempo e que se permitiram cair no esquecimento. Pois existem coisas que não devem jamais ser magoadas. Malone ergueu seus olhos e pela primeira vez, em anos, observou outro ser humano de perto.

Senti-me como a última nota de uma sinfonia. Seus olhos percorram meu corpo como os braços de um músico que acalenta seu instrumento e, que conforme sente a melodia é capaz de traduzir toda sua emoção e espírito.
Tinha olhos cor de noite chuvosa. Não qualquer chuva, mas aquela, a que molha. Por dentro de sua pupila cintilavam gotas e sua íris refletia a densidade da melancolia recalcada uma vida inteira. Soube que era ali que ficaria muito tempo. Malone estava para todo o sempre.

Ele me ensinou que estar só é estar com tudo o que se pode ter. E que ele mesmo, dentro de sua solidão conheceu a todas as pessoas que fizeram parte de sua curta história.

Não sou capaz de contabilizar o tempo em que estivemos ali, em silêncio. Malone em sua observação do ser humano e eu em minha observação de alguém tão peculiar como ele.



Dedico esse primeiro Post primeiramente a Lorca, inesgotável fonte de inspiração e ao prórpio Malone que nunca quis ter sua história escrita em nenhum lugar que não fosse dentro dele mesmo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário